É um problema que atinge boa parte dos longas que querem contar uma vida quase inteira. Condensar décadas em 120 minutos não é uma tarefa fácil e é preciso fazer escolhas de quais períodos acabam por se tornar mais determinantes para o andamento da história do que outros. Por isto as performances de Redmayne e Jones acabam se destacando tanto. Afinal, como manter um casamento onde uma das partes mal pode se mexer (com o tempo, sequer falar) enquanto a outra vive uma saúde plena? É uma questão interessante que o diretor aborda e foca em boa parte de sua produção, lidando com temas como a quase (sim, exatamente) infidelidade – de ambas as partes – e a transformação da paixão irrepreensível em respeito, admiração, carinho e amizade.

Se Redmayne brilha com sua transformação física, em que os menores trejeitos de um Hawking ainda jovem começam a demonstrar que há algo de grave acontecendo, o ator atinge patamares inacreditáveis à medida em que o longa avança, culminando na sua quase total imobilidade. Frente a ele, Jones e sua Jane tem uma grande presença em tela, afinal, ela podia estar fisicamente em perfeitas condições, mas sua psique começa a fraquejar. Oras, cuidar de um marido 24 horas por dia, filhos e não conseguir trabalhar no que gosta afeta qualquer um. Ainda mais quando duvidam de seus sentimentos pelo homem em questão. Ela estaria com ele apenas por interesse? Por status de ficar ao lado de um grande gênio dos tempos? Qualquer traço ambíguo é sanado pelo rosto sincero da atriz, que não duvida da sua personagem em nenhum momento e faz o espectador simpatizar com ela cada vez mais. Esforços que foram reconhecidos nesta época de premiações com várias lembranças, culminando nas justas indicações ao Oscar de Melhor Ator e Melhor Atriz.

Porém, seria injusto dizer que só por eles o filme vale a pena. A fotografia, que parece sempre estar amarelada pelo final da tarde de um dia ensolarado, é exemplo de um bom trabalho, assim como a montagem de uma das cenas do clímax que remete à teoria do Big Bang e a gravidade. Se o espectador sentir falta de mais sobre os estudos que culminam na obra Breve História do Tempo, pode sentir algumas referências não apenas no texto, mas no jogo de imagens que há em alguns momentos. O que pode pesar contra A Teoria de Tudo é ser um dos exemplares britânicos do ano: aquela obra mais “quadradinha”, fácil de digerir e que certamente vai emocionar o público em algum dado momento. Está bom do jeito que foi feito, mas talvez pudesse ter rendido um pouco mais. E por este fator o filme pode ser esquecido com o tempo, ao contrário de Hawkings.

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