(Contém spoilers)
A segunda temporada da série “Narcos”, da Netflix, com o ator Wagner Moura no papel principal do traficante colombiano Pablo Escobar, e dirigida pelo brasileiro José Padilha, chegou à Netflix no dia 2 de setembro com grande expectativa. Essa seria a temporada da derrocada de Pablo Escobar em direção ao seu fim. Na temporada anterior, vimos a ascendência total do maior narcotraficante do mundo, que nos anos 80 se encarregou de espalhar a cocaína pelos Estados Unidos, em um intervalo de poucos anos.
Lembrando que “Narcos” não se prende a fatos 100% reais, e ao mesmo tempo mostra episódios históricos, mas sem o formato de documentário, misturando imagens ficcionais e personagens inventados com fotos reais e personas que existiram. Todos nós sabemos que Pablo Escobar encontrou seu fim. Mas a série se encarrega de nos mostrar o processo disso tudo, e qual jogo resultou nisso.
A primeira coisa que se nota nessa segunda temporada é que Wagner Moura realmente “vestiu” a persona de Escobar. Se antes ele ainda deixava dúvidas sobre sua atuação em espanhol, tudo isso foi deixado de lado e o talento de Moura é um dos grandes destaques dessa nova temporada da série, que começa com a fuga de Escobar da prisão La Catedral, construída por ele mesmo, um templo do narcotráfico que ele chamava de “penitenciária”, quando fingiu se entregar para as autoridades colombianas.
Outra coisa que é notável, é que, em relação à primeira temporada, temos menos pontos de impacto, como tivemos o atentado juntamente com o M-16, que foi visualmente impactante e também extremamente importante para o enredo. As cenas de ação se passam, a maioria, em becos muito parecidos com as favelas brasileiras – “fatiô passô!” de “Tropa de Elite”, será? – em perseguições “mano a mano”. Mais cenas individuais, menos cenas grandiosas, mas as que existem são muito bem feitas, embora muitas cenas de perseguições a sicarios nas favelas sejam um pouco repetitivas.
Arcos dramáticos
Alguns personagens têm seus arcos dramáticos muito mais desenvolvidos nessa temporada. Dois deles são Javier Peña, o parceiro do policial Steve Murphy, que narra a história, e Tata, esposa de Escobar. Murphy, em si, fica um pouco de lado nas missões, mas isso se deve também à um detalhe da história. Pouco vemos da vida pessoal do narrador, mas ele continua presente.
Javier e Murphy têm suas asas cortadas depois de caçarem o narcotraficante com afinco, através de novos comandos vindos dos Estados Unidos, que se interessa 100% em capturar Escobar mas não quer os policiais do DEA (a delegacia de combate às drogas norte-americana) envolvidos no jogo sujo, por uma questão puramente de politicagem. É claro que isso revolta os policiais, que estão metidos até as tampas com a caçada ao narcotraficante.
Com isso, Javier dá vazão às suas falhas de caráter, alçando um caminho antiético e perigoso para contribuir na caçada à Pablo e seus sicarios, principalmente compactuando com informantes um tanto perigosos. Já Tata deixa explícito que, apesar de ser “apenas” a esposa, não está feliz em se esconder do mundo inteiro, nem de ser mulher de um narcotraficante internacionalmente conhecido.
O interessante dessa temporada é analisar o jogo de “gato e rato” feito para capturar Escobar. Se em apenas uma temporada (a primeira), vimos um homem se erguer em direção ao céu pelo império da cocaína durante anos, agora o intervalo é de meses. O cerco vai se fechando para Escobar, que chantageou e comprou policiais e autoridades a vida inteira e de repente se vê sem isso, cercado de inimigos como o Cartel de Cali, e a polícia colombiana, e um novo grupo que se autodenomina Los Pepes e se dedica integralmente a exterminar todos os aliados de Escobar. E, ao ficar cada vez mais perto do fim, Wagner mostra um Pablo cada vez mais psicótico, paranoico e implacável. Um grande trunfo para o ator.