Após atirar em três pessoas durante uma reportagem ao vivo de uma TV da Virginia, nos EUA, o atirador Vester Lee Flanagan usou as redes sociais para detalhar suas atrocidades.
Enquanto a polícia procurava pelo suspeito, Flanagan publicou sobre desavenças com seus ex-colegas de trabalho que morreram, e compartilhou um vídeo do ataque em suas contas pessoais no Facebook, Twitter e YouTube – a entrevistada pela jornalista no ocorrido foi ferida, mas sobreviveu.
O trágico evento foi transmitido ao vivo nas redes sociais e levanta uma questão importante relacionada aos vídeos sociais, recursos de reprodução automática e conteúdo sensível/gráfico. As contas do suspeito foram fechadas após alguns minutos das publicações, mas os vídeos e os posts foram repetidamente retuitados e visualizados. Muitos usuários das plataformas foram pegos desprevenidos porque Facebook e Twitter adotam a reprodução automática de vídeos por padrão, o que muita gente não sabe – ou não muda nas configurações.
Conta fechada
As redes sociais nunca conseguirão prever as ações de criminosos, e fechar as contas do atirador foi a coisa certa a fazer, afirma a especialista Jess Harris, fundadora da consultoria Jess Harris e gerente de social media na Kabbage. “A natureza da rede social é tal que sempre existirá um risco desse tipo de situação acontecer, não importa os esforços das plataformas para acabar com ela. Mesmo que elas imponham restrições ou modificações para diminuir o impacto, as pessoas sempre vão achar um jeitinho”, afirma.
O suspeito postou conteúdo explícito em vídeo, mas suas contas também forneceram uma importante pista para as autoridades seguirem. A natureza essencialmente aberta das redes sociais é uma faca de dois gumes com a qual os provedores de plataformas e a polícia precisaram lidar na última semana. “Quanto mais o suspeito fala nas redes sociais, mais informações as autoridades possuem para ajudar na sua captura e para entender melhor os fatos do crime”, afirma o professor e especialista em relações públicas da Universidade de Syracuse, nos EUA, Bill Jasso.
Futuro incerto da reprodução automática de vídeos
O ato de publicar um vídeo desses já é perturbador por si só, mas o recurso de reprodução automática deixou tudo ainda pior. Alguns usuários se sentiram encurralados pelos vídeos e não sabiam da configuração padrão de reprodução automática ou tinha conhecimento o bastante para escapar dos retuítes dos outros usuários. Algumas pessoas ficaram irritadas por outras terem retuitado e publicado o conteúdo, acreditando que isso deu uma voz e uma plataforma para o criminoso.
Empresas como Facebook e Twitter (e outros sites que usam anúncios em vídeo) utilizam a reprodução automática para estimular os usuários a assistirem aos clipes e para que os anunciantes acabem recebendo mais visualizações. No entanto, esse caso da Virginia deve fazer essas companhias reavaliarem os recursos, segundo Jasso. “Não tenho dúvidas de que estão acontecendo reuniões entre os executivos de várias empresas de mídias sociais, examinando as capacidades do recurso de reprodução automática e a atual política de desabilitar a ferramenta.”
Alguns desses recursos são relativamente novos, as empresas ainda estão experimentando com eles, e Jasso diz acreditar que o auto-play vai acabar mudando para um padrão em que ficará desabilitado. Harris discorda e diz que uma única situação, não importa o quanto seja trágica, vai causar grandes mudanças nas configurações das redes sociais. “As pessoas compreensivelmente estão irritadas e tristes com o fato desse vídeo horroroso ter sido reproduzido automaticamente em seus feeds. No entanto, não prevejo uma grande mudança no streaming de conteúdo com um caso, mesmo que seja extremamente trágico.”
Controle de danos
No futuro, as redes sociais, assim como veículos jornalísticos, terão de tomar decisões difíceis sobre as muitas maneiras que as notícias são cobertas em seus sites, incluindo a reprodução automática de vídeos potencialmente gráficos e o equilíbrio sensível entre mostrar eventos em tempo real e proteger os usuários de conteúdo ofensivo.