Carlos Heitor Cony: A Voz Insubmissa da Literatura e do Jornalismo Brasileiro
Carlos Heitor Cony foi mais do que um grande escritor; foi uma consciência crítica do Brasil do século XX. Com uma carreira marcada por talento, coragem e sensibilidade, Cony se destacou tanto na literatura quanto no jornalismo, tornando-se uma referência para gerações que buscavam entender — e desafiar — os rumos do país.
Primeiros Anos e Formação
Nascido no Rio de Janeiro em 14 de março de 1926, Carlos Heitor Cony cresceu em um ambiente de palavras e ideias: era filho do jornalista Ernesto Cony Filho. Na juventude, chegou a estudar para ser padre, mas logo percebeu que sua verdadeira vocação era escrever. Essa transição precoce moldou uma característica essencial da sua obra: o diálogo constante entre fé, dúvida e existência.
A Trajetória no Jornalismo
Cony iniciou sua carreira jornalística no Correio da Manhã, um dos principais jornais do Brasil na época. Sua escrita afiada e corajosa o tornou uma das vozes mais potentes contra a censura e os abusos da Ditadura Militar (1964–1985). Não sem consequências: Cony foi preso diversas vezes e teve textos censurados, mas nunca abandonou seu compromisso com a liberdade de expressão.
Mais tarde, passou a integrar a equipe da Folha de S.Paulo, onde manteve uma coluna regular até seus últimos anos de vida. Suas crônicas misturavam ironia, reflexão e humanidade, características que marcaram profundamente seu estilo.
A Obra Literária
Na literatura, Cony foi igualmente intenso. Publicou mais de 15 romances, transitando entre o existencialismo, o drama humano e a crítica social. Entre seus livros mais conhecidos estão:
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O Ventre (1958) – Primeiro romance publicado, já revelava seu estilo introspectivo.
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Tijolo de Segurança (1960) – Uma análise amarga da sociedade urbana e suas contradições.
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Quase Memória (1995) – Obra de forte tom autobiográfico, premiada e adaptada para o cinema, é considerada por muitos seu maior trabalho.
Sua escrita é frequentemente associada a autores como Franz Kafka e Albert Camus, pelas abordagens existencialistas e pela constante inquietação diante do mundo.
Em reconhecimento à sua contribuição à cultura brasileira, Carlos Heitor Cony foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2000, ocupando a cadeira nº 3.
Cony no Cinema
O talento de Cony ultrapassou os livros: várias de suas obras foram adaptadas para o cinema, levando suas histórias a novos públicos. Quase Memória, lançado como filme em 2015, é um exemplo dessa força narrativa que atravessa formatos.
Um Legado de Coragem e Sensibilidade
Carlos Heitor Cony faleceu em 5 de janeiro de 2018, aos 91 anos, mas sua voz permanece viva. Ele nos deixou uma lição valiosa: a importância da reflexão crítica, da resistência diante das injustiças e da busca incessante por sentido em um mundo muitas vezes contraditório.
Como ele próprio disse:
“Tenho muito medo de tudo, mas não ao ponto de não enfrentar.”
Ler Carlos Heitor Cony é mergulhar em dilemas humanos profundos, em uma escrita elegante e ao mesmo tempo inquietante. Sua obra continua atual, necessária — e essencial.